Entre pernas e taças

O vinho já estava no fim. As taças dançavam mais que os pés, dos olhos derramavam maquiagem, as unhas vermelhas, a camiseta manchada, a calcinha preta, os cachos desalinhados a fazer curvas pelos ombros.

Ele a observava. Seus olhos percorriam toda a pele, todo gesto, toda entrelinha do bailar suave daquele corpo entregue à música. Sentado no chão, nu, sentiu seu corpo vibrar da alegria de estar ali a olhar aquela mulher. Ele que a desejara tanto, a tinha ali naquele instante e ainda que fosse breve, faria dele eterno como nos versos do poeta.

Ela estava tonta. Quase um tropeço. Ele e seus braços. Um torpor, um sorriso, a taça no chão, um beijo.

O enroscar dos corpos, as mãos percorrendo as notas de toda sonoridade que havia. Um abraçar melódico, passos não ensaiados, palavras e cheiros e rastros, dedos e lambidas. O sexo exposto, o penetrar alinhado, o desatino da primeira estocada: gemidos.

Cavalgadas selvagens sobre o macho detido. O olhar altivo da fêmea a penetrar seus domínios. Com as mãos presas, só havia o fálico ereto e ela sabia da chegada do gozo. Então entre os freios, a boca carnuda, o clitóris latente, a língua, a saliva e os dentes e no aviso do orgasmo, o penetrar desavisado.

Ela voou primeiro e ele, em seguida. Quase uníssonos. Quase eternos. Quase exatos do amar.

eram dois bichos no cio...

Olhavam-se com ódio cheio de desejo. E um tesão recolhido, que insistia em se apossar em ambos. Agressivo, ele a segurou, apertando seus braços. Ela tentou escapar. Ele a apertou ainda mais. Ela se debateu. Mencionou xingar. Cuspiu-lhe o rosto. Ele a pegou pelos cabelos, possesso. A jogou ferozmente contra a parede, espremendo-a com seu corpo. Puxou ainda mais seus cabelos, pela nuca, virando seu rosto para que pudesse olhar sua cara. Ela gostava disso. E ele sabia. O tesão era visível e crescente. Tesão e raiva. Lambeu-lhe o pescoço, a bochecha e a orelha.
- Cachorra!
Sussurrou em seu ouvido. Ela sentiu-se derreter. Ele comprovou com seus dedos por baixo do vestido. Nada falavam. Não queriam. Não podiam. Eram ali só instinto. Eram dois bichos no cio. Ouvia-se apenas a respiração ofegante, o palpitar do coração, o pulsar da paixão. Ele puxou sua calcinha para o lado. Penetrou-a. Ela soltou um gemido. Sabia que lhe pertencia. E deixou-se abater o corpo. Ele a penetrava com toda força que cabia em sua raiva. Ela era só delírio. Seus seios, espremidos na parede. Os quadris em movimento constante. Gozaram juntos, ali, como tantas vezes outrora. Depois seguiram, opostos. Sem palavras. Sem carinhos. Sem beijos. Apenas o desejo de seus sexos.

Volúpias de amor intenso

Ela o queria na boca primeiro. E enquanto se abraçavam, só pensava em devorá-lo. Era comum aquela vontade, era corriqueiro o desejo de perder-se em seu caminho, deslizando sua língua por todo comprimento, mordiscando de leve, provocando, faceira, até detê-lo inteiro entre seus lábios. Então entre beijos, confessava o querer irremediável. E ele se contorcia só de pensar em seu fálico abocanhado. Ela beijava a nuca, passeava pelas orelhas e deixava escapar sussurros quase inaudíveis, pequenos gemidos enlouquecedores. E ele se entregava inteiro, de olhos fechados e de si, desperto. Ela descia pelo peito, sua língua entre os poros, arrepiáveis volúpias de amor intenso. Os bicos rígidos imploravam lambidas e ela, escrota, se fazia de sonsa e então descia mais, até o ápice da barriga, fingindo chegar ao destino, para depois revelar armadilha. Então subia e arrancava-lhe um beijo e ele, ofegante, não tinha palavras. E depois de um sorriso, ela ia resoluta encontrar o seu brinquedo e apertava aquela bunda com suas unhas de tigresa.

Ele puxava os seus cabelos e olhava a fera insana enquanto era devorado. E segurava o gozo afoito que corria pelas veias. Ela o sentia latejante e sugava ainda mais, dividida entre a espera do gozo e a vontade de senti-lo em outra boca. E como num adivinhar atrevido, ele a puxou de súbito e enfiou-lhe o pau com vontade, fazendo-a uivar de desejo. E então bailaram juntos, colados num abraço quase violento, como se os corpos, em alinhados quereres, pudessem fundir-se, ao encontro do gozo.

Calafrios

Enquanto todos conversavam, os dois se olhavam. Profundos, nítidos, se entendiam sem palavras. E aquela cumplicidade era a vertente mais extraordinária que continham. Na entrega do beijo se esfregavam ofegantes. O entra e sai descompassado pela casa não permitia mais que isso. Seus corpos, no entanto, pediam muito mais. Riam-se desmedidos encostados na janela. O roçar dos seios, a mão na nuca, o sopro no ouvido, a palavra sussurrada, o bailar das pernas, o contrair do púbis... Já emanavam sexo e era impossível continuar ali encostados naquela parede que já derretia. Como num jogo telepático, decidiram pela fuga. E então num súbito desvario, ela o conduziu até o banheiro.

Trancados, esqueceram dos ponteiros. E se amaram selvagens pela relva de azulejos. Da saia à calcinha, esvaídas fumaças. Os dedos entregues, as mãos orquestradas e na boca o fálico a pulsar de alegria. Ela sugava, lambia, mordia e lançava pra cima olhares lascivos, enlouquecendo aquele macho que de manso, nada tinha. E então no quase gozo ele a puxou pra cima, e foi então sua vez de esconder-se na mata. E sua língua latente arrancava os versos da vagina e flutuava solene sobre o botão que já desabrochava. Ela puxava os seus cabelos, ele sugava ainda mais. Puxando-o para cima, ordenou que a penetrasse e ele obedeceu, deslizando para dentro. A casa, pequena, ecoava em suas buscas, mas os dois estavam colados e desgrudar não mais cabia.

E num louco penetrar, a fazia gozar-se inteira; e os gemidos, proibidos, eram encobertos pelos beijos. Batidas na porta do banheiro, seus nomes jogados ao vento, e ela colocou-o sentado e penetrou-se resoluta, dando início à cavalgada. Ele estava por um fio e a fêmea enlouquecida rebolava em seu pau rijo, revesando estocadas, provocando calafrios até o gozo.

Cúmplices e ofegantes se olhavam. Um cigarro a esperava. Riram do mundo, abraçados e leves, enquanto seus nomes, misturados, uníssonos, ainda ecoavam lá fora.

Entre labaredas e faíscas...

Atrás do sofá, um colchão. A camisola faceira escondia verdades. O beijo, crescente, fazia arder os dois corpos, sedentos pelo nu inevitável. As mãos, ardentes, buscavam rugidos. As línguas lânguidas entrecortavam dentes, o céu da boca, os lábios, a palavra muda. Os corações palpitantes diante do perigo iminente. Um tesão cada vez mais crescente, o não, o sim, o mais um pouco...

De repente, as roupas não cabiam mais. E foram soltas pelo chão que quente, já tremia. Os seios nus, a vênus louca, o pau ereto e tudo encharcado de suor e gozo. Penetrou-a. Um quase grito a perpassar paredes, as pernas abertas, o entra e sai, um devaneio.

Ele morde a boca, ela chupa os dedos, ele beija a nuca, ela estremece inteira. Dois sedentos numa noite escura, o céu lá fora a perpetuar estrelas. O sofá-barreira já não escondia, pois o sexo rubro invadiu a sala. E os dois já surdos não se importavam, pois estavam inteiros a cruzar as almas. Multifacetários, se comiam ávidos. E o que era quente, se tornou faísca.

Duas labaredas a tecer seus versos. E nessa antropofagia desviaram a noite e à madrugada se entregaram inteiros. Eram dois ocultos entre os vultos vivos e entre gritos mudos já não enxergavam. À deriva do gozo, naufragaram livres e entre o grito e o beijo, dois gozados ébrios.