Fragmentos de um diálogo sarcástico.

- Não sei porque me pergunta isso... quer saber a verdade? Então vou te falar. Aconteceu sim! Duas vezes. Uma vez com um cara que conheci numa festa. A gente ficou no final da festa e tal... ai depois fomos a um motel. Foi massa.
- E foram pra onde?
- Como assim pra onde? Ah velho... fomos pra um motel.
- Que motel? Aonde?
- Eu não tenho que te falar isso...
- E a outra vez? Foi com esse mesmo cara?
- Não... foi com outro...
- Outro?!?
- É, lá do curso... antes de começar a aula. Nós tínhamos chegado cedo. Aí ficamos lá na frente conversando. E ai começamos a falar de sexo... rapaz, nem sei direito como foi... só se que começamos a nos agarrar e ai tava um tesão da porra... Aí fomos lá pra escada que dá pra garagem... Foi muito louco. Trepamos lá mesmo em pé. Depois a gente deu muita risada... Foi muito louco mesmo.
- Como assim? Foi com aquele cara ne? Eu sabia que rolava alguma coisa!
- Não vou te dizer com quem foi.
- E você gozou? Duvido que tenha gozado. Você nem gosta de rapidinha assim.
- Não, não gozei, mas nem por isso deixou de ser bom... E quer saber? Ele tinha a pica grossa do jeito que eu gosto. E tem mais: com o outro da festa eu gozei... e muito! Ele me chupou todinha... você sabe como eu fico quando me chupam.
- Não quero saber de mais nada!
- Não, deixe eu te falar... depois que gozei, fiquei de quatro pra ele.
- Pare de falar, caralho!.
- Ele puxava meu cabelo.
- Que porra!
- Você não queria saber?
- Só espero que tenha usado camisinha. Porque ta rindo? Usou ou não usou???
- Ah velho... não é da sua conta mesmo sabe? Quer saber? Vá tomar no seu cu.

Desfeito o silêncio, o instante trôpego

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Deitada de costas, estipulei que naquele dia, não haveria penetração. Nem no corpo, nem na alma. Minhas entranhas estavam fechadas e eu era de um convexo inexplorável naquele instante. Queria antes uns beijinhos de leve, dos pés à nuca, um outro sentido lingüístico para minhas entradas todas, desde os poros aos recônditos da minha vagina.
Então ele veio, sorrateiro, engolindo lentamente meus pedaços, um a um, de um modo preciso, de um modo circular, de um modo... E eu completamente fingida num silêncio preenchido por pequenos uivos, eu e ele, eu e ele... E sua língua e eu e meu corpo e seu cheiro e o meu... E ele subindo aos poucos, encontrando vãos, deslizando os desejos todos... E eu sentia suas mãos ofegantes a buscarem um sim qualquer que o impelisse ao mais, ao tanto mais que ali havia e eu fingia... Fingia descaradamente que não entendia nada, enquanto a minha respiração entregava o todo e eu... E eu pulsante revirei do avesso e me entreguei inteira àquela maneira descabida de amar, e ele já sabia, ele já sabia que eu fingia e nada, nada naquele momento impediria o encontro.
Um gozo imenso penetrou-me inteiro e entre suores, despudores e calafrios intensos eu me vi surtada, num não-lugar distante naquele instante agora, eu só queria mais e ele não metia. Fingia. E eu agora era um sim rasgado e ele então encaminhava o verso e revirava os olhos num desprezo suspeito e eu não agüentava e lhe implorava mais.
E nesse jogo mergulhamos juntos e ele em mim entrou e a parede fria sentiu nosso calor e derreteu o outrora e se apagou no chão os devaneios tolos e me entreguei inteira e nada mais havia e ele me sugava e ele me batia e ele me deitava e eu ardia toda, como se fôssemos mar, como se fossem ondas, alucinantes versos, modos imprecisos, penetrações diversas e o mundo se acabando e a gente não sabia.
Éramos dois e daquela noite que não se findaria num instante claro, apenas restaria mais desejo insano e novas vontades no amanhã incerto. E eu gritava tanto e dilatava toda e ele me olhava e invadia fundo e eu me contorcia e ele rebolava e nesse vai e vem a madrugada inteira e aquilo que não era no agora se formava, e entre um gozo e outro portas se abriam e delatava o amor ainda pouco dito.
E no final de tudo ainda mais restava, como o início do silêncio que Smetack não ouvia, mas as forças eram nulas e os corpos fétidos, clamavam uma pausa - ainda que sofrida. Jogados ao chão, dois encantados éramos, não havia palavras e nem sentido havia. Nossas mãos se encontraram e num suspiro único, fechamos nossos olhos, pois já nos sabíamos.

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